(Grupo Mamulengando Alegria numa brincadeira de terreiro, Glória do Goitá – PE, 2022. Foto Alex Apolonio).
Desde sua fundação, o núcleo do Mamulengo Teatro já se mantinha aberto para artistas que não eram da família. Nesse sentido, os processos de transmissão de saberes e aprendizagem, que se alicerçam em torno das vivências e da oralidade, também estavam direcionados tanto aos membros da família quanto aos frequentadores mais assíduos do Ateliê. E, nos últimos 20 anos, o grupo ampliou essa abertura à comunidade abraçando, aprendizes mamulengueiros, bonequeiros, pesquisadores, e inclusive artistas de outras linguagens, isso contribuiu com a maneira do grupo ensinar e aprender, levando a um crescimento pedagógico, simbólico e numérico com a adesão de novos colaboradores como: os tocadores Zé Cardeira e Bilíngue, os bonequeiros José Augusto, Adeilson Estavam (Peu) e Carlos Souza, o folgazão já citado Felipe Santos, o mamulengueiro Eduardo Félix, e mais recentemente o pesquisador e produtor cultural Alex Apolonio.
Em quatro décadas (1982-2022), o Mamulengo Teatro Riso possui muitas conquistas. A primeira delas é o Ateliê Teatro Riso, a primeira sede do grupo, localizado no bairro Nova Glória em Glória do Goitá-PE. Trata-se de um espaço voltado para administração, idealização e materialização dos projetos do grupo, um local de práticas artísticas e formativas voltadas para a comunidade ao entorno. No Ateliê, também estão expostos os bonecos que pertencem a mala do mestre Zé Lopes (in memoriam).
Para além da nossa sede, outro espaço que se origina pelas mãos da família do Lopes é o Museu do Mamulengo de Glória do Goitá, fundado em 2003 por mestre Zé Lopes, pelo artista e pesquisador Fernando Augusto e pela prefeita em exercício Fernanda Paes (PSB), com o nome de Centro de Revitalização do Mamulengo, o espaço é o berço de importantes nomes da cena mamulengueira atual. A importância da iniciativa de Zé Lopes transformou um prédio abandonado em símbolo da Capital Estadual do Mamulengo, local de difusão e formação do nosso teatro de bonecos popular. A partir da década 2010, a família Lopes deixa o Centro de Revitalização para se dedicar a projetos pessoais, desde então o espaço se mantém gerido pela Associação Cultural dos Mamulengueiros e Artesãos de Glória do Goitá – ACMAGG.
Em 2008, como desdobramento dos trabalhos no Ateliê e Mamulengo Teatro Riso, surge o Mamulengando Alegria, grupo inicialmente fundado pelas mulheres da família Lopes (Neide, Cida e Larissa), surgiu buscando dar visibilidade a presença feminina no brinquedo ao pautar o debate sobre a igualdade de gênero por meio dos bonecos. Assim, as brincantes continuaram ao lado de Zé Lopes no Mamulengo Teatro Riso, mas ao mesmo tempo dando vazão aos seus desejos e lutas femininas dentro da cultura popular. Em razão deste trabalho, em 2017, Cida Lopes (co-fundadora do grupo) recebeu do Ministério da Cultura – Governo Federal o Prêmio Culturas Populares Leandro Gomes de Barros, na categoria Mestra da Cultura Popular.
Em suas quatro décadas o Mamulengo Teatro Riso já se apresentou em todo Brasil e no exterior (Portugal, Espanha e Itália). De 2004 a 2018, estivemos em todas as edições do Festival SESI Bonecos do Mundo – o maior festival do gênero já produzido no Brasil. E do mesmo modo, estivemos com os nossos bonecos, de maneira ininterrupta, na FENEARTE, maior feira de negócios do artesanato da América Latina. Além de feiras e festivais como os já citados, premiações e menções honrosas marcam nossa trajetória como grupo, três delas concedidas pelo Governo do Estado de Pernambuco: Prêmio Ariano Suassuna de Cultura Popular e Dramaturgia (2016), concede honraria a Zé Lopes como mestre da Cultura Popular; Patrimônio Vivo de Pernambuco (2016), reconhecendo Zé Lopes como legítimo representante da arte do Mamulengo; e de maneira póstuma, em 2020, o título de Patrono dos Mamulengos de Pernambuco ao mestre Zé Lopes, por meio do projeto de Lei 1449/2020 de autoria do Dep. Henrique Queiroz Filho (PL), aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco – ALEPE.